Fala Bourdieu:
“Começa-se assim a suspeitar de que a precariedade é o produto de uma vontade política, e não de uma fatalidade econômica, identificada com a famosa “mundialização”. A empresa “flexível” explora, de certa forma deliberadamente, uma situação de insegurança que ela contribui para reforçar: ela procura baixar os custos, mas também tornar possível essa baixa, pondo o trabalhador em risco permanente de perder seu trabalho. Todo o universo da produção, material e cultura, pública e privada, é assim arrebatado num vasto processo de precarização, inclusive com a desterritorialização da empresa (...)." (Bourdieu, 1998, p.123)
Coincidentemente, recebi esta semana, via @malvados, o link para uma exposição fotográfica que registra os efeitos do processo de desterritorialização sobre Detroit, outrora capital mundial da indústria automobilística. Em meio às fotos de fábricas e bairros inteiros abandonados, chamou-me atenção uma de um consultório odontológico.
Algumas fotos:
Também por coincidência, chegou-me recentemente um poema de Drummond que casa perfeitamente com a exposição. Chama-se A Câmara Viajante, e retiro um trecho:
Que pode a câmara fotográfica?
Não pode nada.
Conta só o que viu.
Não pode mudar o que viu.
Não tem responsabilidade no que viu.
A câmara, entretanto,
Ajuda a ver e rever, a multi-ver
O real nu, cru, triste, sujo.
Desvenda, espalha, universaliza.
A imagem que ela captou e distribui.
Obriga a sentir,
A, driticamente, julgar,
A querer bem ou a protestar,
A desejar mudança.