Paulo Capel Narvai escreveu um artigo para o Jornal do Site dizendo que este dado seria uma lenda. Uma espécie de hoax que teria se iniciado antes mesmo da popularização da internet. Diz ele:
"Não basta para o enfrentamento da atual política de formação de recursos humanos em saúde — aí incluídos os recursos humanos odontológicos —, a enfadonha citação de que "a Organização Mundial da Saúde recomenda 1 dentista para 1.500 habitantes." (Há variantes como 1/1.000 ou 1/2.000). Há pelo menos dois erros nisso: em primeiro lugar, a OMS não recomenda coisa alguma. Em algum momento alguém deve ter lido mal em algum lugar, citou erroneamente a OMS e, a partir daí, tem havido uma repetição mecânica e acrítica dessa proporção. Jamais encontrei a referência bibliográfica nos artigos que mencionam a tal proporção. Nos documentos da OMS, aos quais tive acesso, nunca li nada sobre o assunto. Até que algum pesquisador desvende esse mistério, pode-se concluir que trata-se de pura lenda".
Confesso que há muito tempo não tenho sossego, procurando as origens da lenda, pois encontrei publicações até de 1979 com essa informação. Até que me bateu a ideia de procurar onde a coisa começou (ou não) : a própria OMS.
Achei um comunicado da organização que esclarece a coisa toda:
"A Organização Mundial de Saúde (OMS) e a Organização Pan-americana da Saúde (OPAS) não recomendam nem estabelecem taxas ideais de número de leitos por habitante a serem seguidas e cumpridas por seus países-membros. Tampouco definem e recomendam o número desejável de médicos, enfermeiros e dentistas por habitante. Não existe, ainda, orientação sobre a duração ideal das consultas médicas ou um número desejável de pacientes atendidos por hora." Grifo meu.
Então, como tudo aconteceu?
No longínquo ano de 1972 ocorreu a III Reunião Especial de Ministros de Saúde das Américas, que resultou no Plano Decenal de Saúde para as Américas. Os ministros ali reunidos combinaram a meta de alcançar "8 médicos, 2 odontólogos, 4,5 enfermeiros e 14,5 auxiliares de enfermaria para cada 10.000 habitantes". Só isso. E o valor nem corresponde à versão consagrada na literaura...
O documento é fruto de um evento da OPAS-OMS, mas não é uma resolução oficial da organização, que diria quanto dentistas deveriam existir pra cada tantos mil habitantes.
Ate porque, em 1972 a realidade era outra, não é? Bem aqui um artigo do Vitor Pinto de 1983, que não me deixa mentir.
O link para o esclarecimento da OMS é este, mas você pode ler abaixo:
Leitos por Habitante e Médicos por Habitante
Veja também este vídeo: